terça-feira, 8 de junho de 2021

A fila fundamental

Hoje lembrei da fila da vacina num corredor do colégio Severiano de Almeida, durante o ensino fundamental no final dos anos 70. Tenho certeza que as outras crianças e seus pais, assim como eu e os meus, acreditavam na necessidade de serem vacinadas; a professora tinha explicado que era necessário. A vacina era aplicada com uma pistola MUITO legal. "Moça, será que você pode nos emprestar ela um pouquinho?" "Pode deixar que nós vacinamos o pessoal, moça!"

Hoje estou na fila da vacina na UFSM, onde trabalho no ensino superior. Entramos nesta fila logo após os colegas da educação básica, depois dos profissionais da saúde e dos idosos. Nossos pais já foram vacinados, e em breve nossos filhos também serão. Pensar nos nossos filhos me leva de volta aqueles tempos do ensino fundamental. E me faz lembrar que fizemos bem em acreditar na professora!

No ensino fundamental estão as crianças que perguntam "porque" e exigem uma resposta precisa. Estas crianças são essenciais para o nosso desenvolvimento científico; elas são as cientistas do futuro. E são as professoras que estão lá para dar a resposta precisa!

Na vida científica há um longo caminho, desde as cadeiras do colégio no ensino fundamental, até os laboratórios de pesquisa. Fica fácil de entender porque as professoras do ensino fundamental estão lá na frente da fila; a fila da vacina, sem vacina, não existe.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

RU UFSM

Há duas coisas que chamam a atenção de quem almoça no RU UFSM.
A primeira é a excelente qualidade da comida.
A segunda é o número de pessoas que agendam, mas não comparecem.

Mais de 55 mil pessoas agendaram refeições no mês de abril de 2019, porém mais de 7.600 pessoas não compareceram!
Deixo como exercício para você descobrir o que aconteceu com estas 7.681 refeições. Ou, supondo que cada uma tenha 400 g, o que aconteceu com estes 3.072,4 kg de alimento. (É isso mesmo, foram mais de 3 toneladas de alimento!)

E, se me permite, lhe convido a me ajudar a mudar esta realidade!
Há algumas ações simples.
(1) Agende apenas refeições que você vai fazer.
(2) Cancele refeições que você não vai fazer.
(3) Disponibilize o agendamento da refeição que você não vai fazer.

Você é capaz de estimar o valor de uma refeição desperdiçada? Principalmente em nossa comunidade, onde há pessoas expostas às mais diferentes realidades.

É possível estimar o custo destas refeições para a nossa comunidade, no entanto. Nesta estimativa, não podemos utilizar o valor que pagamos pela refeição; o valor pago pela refeição cobre apenas uma parte do custo para entregar ela na nossa mesa.

Tendo em vista a Resolução 037/2017, que estabelece que "os servidores da UFSM deverão pagar integralmente o valor de suas refeições, tendo como base o custo médio ponderado das refeições, de todos os Campi", temos que o valor de R$ 8,20 é o custo médio ponderado das refeições.

As 7.681 refeições tiveram um custo de R$ 62.984,20 para a nossa comunidade!

Deixo para você então o exercício de estimar o valor que 7.681 refeições tem; neste exercício, procure a opinião de seus colegas, seus amigos, seus familiares; procure também a opinião de pessoas que vivem realidades diferentes da sua.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Tecnologia, patente, sociedade

Publicado em 26/Abril/2019
Diário de Santa Maria
https://photos.app.goo.gl/myghENTSYKRoYYWCA
e
Site da AGITTEC UFSM
https://www.ufsm.br/orgaos-executivos/agittec/2019/04/26/26-de-abril-dia-mundial-da-propriedade-intelectual-2/

O Dia Mundial da Propriedade Intelectual
“No dia 26 abril celebramos o Dia Mundial da Propriedade Intelectual para aprender como os direitos de propriedade intelectual encorajam a inovação e a criatividade.” (OMPI) [1]

Neste ano, a campanha da OMPI foca no mundo dos esportes, mostrando o papel da propriedade intelectual nesta indústria multi-bilionária, que emprega milhões, e que entretém outros tantos. E assim como outras indústrias, o esporte usa patentes para nutrir o desenvolvimento de novas tecnologias esportivas, novos materiais, treinamentos e equipamentos, que por sua vez ajudam a melhorar a performance dos atletas e atrair fãs. Um exemplo é a ideia dos anos 60, desenvolvida na Universidade da Flórida nos Estados Unidos, e que lançou uma indústria: o Gatorade [2].

Em qualquer área, assim como no esporte, uma tecnologia só atinge de fato os milhões de brasileiros quando utilizada ou produzida nesta escala, incorporada pelas indústrias. Há uma tradição de proteção aos direitos relativos à propriedade industrial no Brasil, desde a época em que os brasileiros viviam em um império. E esta considera o seu interesse social, e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.

A primeira legislação sobre patentes do Brasil foi o Alvará de 28 de abril de 1809, de Dom João VI [3,4], concedendo 14 anos de privilégio em troca da descrição da invenção que respeitasse critérios como novidade e aplicação industrial com obrigação de fabricação. Esta foi a quarta legislação de patentes no mundo seguindo Inglaterra (1623), Estados Unidos (1790), e França (1791) [3]. A primeira lei de patentes [5] foi assinada por D. Pedro I em 1830, e atualmente os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial são regulados pela LEI Nº 9.279, DE 14 DE MAIO DE 1996 [6].

A lei de patentes existe para fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias, através dos direitos de propriedade concedidos aos inventores. Se estabelece uma situação na qual aos inventores é concedido o direito de impedir outros de explorar sua tecnologia, por determinado período de tempo, em um determinado país. E a sociedade ganha, por sua vez, o acesso à nova tecnologia.

Patentes e a UFSM
Há mais de cem processos de pedido de patente mantidos pela UFSM, incluindo 10 patentes concedidas no Brasil e duas patentes concedidas no exterior. Há várias outras proteções, como mostrado em detalhe na figura abaixo. Dois programas de computador e um pedido de patente são as 3 tecnologias licenciadas com contratos vigentes, e que arrecadam atualmente cerca de R$ 200.000 por ano.
Indicadores de propriedade intelectual
Tanto a experiência acumulada pela UFSM ao longo dos últimos anos, como os números acima, mostram uma realidade intrigante. Se usarmos como indicador o número de licenciamentos ou o número de proteções, concluímos que os processos de proteção são executados com mais eficiência do que os processos de licenciamento. E este é um ponto chave quando se assume a perspectiva da sustentabilidade, onde é necessário que a receita dos licenciamentos cubra os custos das proteções. E ainda mais importante, este é um ponto chave para que a sociedade tenha de fato acesso às novas tecnologias.

Universidade, pesquisa científica e tecnologia
Os desafios envolvidos na execução da pesquisa científica de ponta exigem uma alta dose de inovação e criatividade, e isto estabelece uma ligação forte entre pesquisa, inovação, e criatividade. Da mesma forma, exigem uma alta dose de inovação e criatividade os desafios envolvidos no desenvolvimento de tecnologias de ponta, e que de fato atingem a sociedade. A inovação e a criatividade são essenciais na pesquisa científica, e essenciais no desenvolvimento de tecnologias.

As universidades brasileiras são centros de pesquisa que produzem conhecimento científico de alto nível. No ano de 2016, as instituições brasileiras publicaram cerca de 70.000 artigos científicos [7], e cerca de 35.000 deles com a participação das nove universidades brasileiras que mais publicaram, três estaduais e seis federais.

Mas a participação das universidades é menor no desenvolvimento de tecnologias. No ano de 2016 foram depositados cerca de 28.000 pedidos de patente no Brasil [8], e as universidades foram responsáveis por cerca de 1.600 destes pedidos. As dez universidades que mais depositaram são responsáveis por aproximadamente 600 pedidos, e três delas são estrangeiras [9].

No Brasil, é claro que as universidades são responsáveis pelo desenvolvimento do conhecimento científico, e as empresas são responsáveis por levar as tecnologias até a sociedade. A realidade em outros países, no entanto, mostra que o desenvolvimento do conhecimento científico e o desenvolvimento de tecnologias tem uma ligação forte. E as universidades brasileiras, que já mostram a capacidade de desenvolver conhecimento científico de ponta, podem também ter um papel importante no desenvolvimento das novas tecnologias que chegarão à sociedade.

Parceria universidade-empresa
Não há dúvida que a nossa universidade é capaz de desenvolver novas tecnologias. No entanto só chegam de fato à sociedade as tecnologias licenciadas e incorporadas aos processos industriais, que são capazes de produzir na escala de milhões.

Inovação e criatividade fazem parte da essência do processo de desenvolvimento do conhecimento científico nas universidades, e é através delas que as universidades contribuirão para o desenvolvimento tecnológico. Mas a relação universidade-empresa é essencial; por um lado ela permite o crescimento do grau de inovação e de criatividade nas tecnologias; por outro lado permite que as demandas da sociedade sejam consideradas. Apenas as indústrias serão capazes de materializar a transferência de tecnologia para a sociedade.

Referências
[1] World Intellectual Property Day – April 26, 2019. Reach for Gold: IP and Sports (2019).
Acessado em 04/Abril/2019.

[2] UF celebrates 50 years of Gatorade (2015).
Acessado em 16/Abril/2019.

[3] DL 101P BR - Módulo 7 – Patentes – (6V) OMPI/INPI (2016).
Acessado em 04//Abril/2019.

[4] Legislação Informatizada - ALVARÁ DE 28 DE ABRIL DE 1809 - Publicação Original (1809).
Acessado em 04/Abril/2019.

[5] Legislação Informatizada - LEI DE 28 DE AGOSTO DE 1830 - Publicação Original (1830).
Acessado em 04/Abril/2019.

[6] Lei Nº 9.279, DE 14 DE MAIO DE 1996 (1996).
Acessado em 04/Abril/2019.

[7] Web of Science - Coleção Principal (Clarivate Analytics) (2019).
Procura por endereço usando “brasil or brazil”.
Acessado em 04/Abril/2019.

[8] WIPO IP Statistics Data Center (2019).
Acessado em 05/Abril/2019.

[9] Questel (2019).
Procura por titular usando “universidade or university”.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Feliz aniversário

O tempo, sem dúvida, é relativo.
E para alguns, não passa.
O amor, por exemplo, não envelhece.
Mas, faz aniversário; parabéns, meu amor!

Publicado originalmente em
http://www.facebook.com/story.php?story_fbid=575003116306065&id=100013891460106

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Adote!

O problema

Há pessoas que não gostam de animais.
E algumas pessoas são realmente más com os animais. Entre estas estão as pessoas que abandonam os animais no Campus UFSM Camobi. Aqui, no nosso lado.
Há pessoas que gostam de animais.
E algumas pessoas amam os animais. E entre estas estão as pessoas que também maltratam os animais, ainda que de uma forma inocente, apesar de amá-los. Por exemplo, as pessoas que alimentam os animais abandonados com restos de comida. Aqui, no nosso lado.

Não alimente os animais

É claro que você está criando carinho e conforto quando alimenta os animais, ainda que com restos de comida. Afinal, é um pedaço da comida saudável que você acabou de comer!
Mas há mais de um problema relacionado com isto.
O primeiro deles é que a comida foi preparada para consumo humano, e não animal.
E se você não fica com eles todo o dia, quem controla o quanto eles comem?
Esta é uma das receitas para problemas de saúde: comida imprópria sem controle de quantidade.
A ação de alimentar os animais cria o efeito de carinho e conforto, mas apenas para a pessoa que alimenta. O Campus UFSM Camobi é uma comunidade com dezenas de milhares de pessoas, mas com apenas alguns animais abandonados. Quando eles são alimentados com restos de comida e sem controle de quantidade, o efeito para as pessoas é a satisfação, e para os animais é a doença.

Ajude-nos a encontrar um lar para os animais

Os animais que foram abandonados no Campus UFSM Camobi precisam de pessoas que cuidem deles sempre. Ainda que você não possa ser uma dessas pessoas, você certamente pode nos ajudar a encontrá-las!

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Paradoxos

A vida tem paradoxos. Eu, por exemplo, acredito que minha alma pertence à ciência! Já seria um feito grandioso demonstrar que eu não apenas acredito, mas que de fato ela pertence. E outro feito ainda maior demonstrar que existe alma.

As almas estão em evidência hoje, o dia dos namorados. Comemora quem tem não apenas a sua alma, mas também uma alma gêmea. Hoje eu decidi consolidar meu amor pela ciência! Eu sei, o amor que à primeira vista nos completa, às vezes nos despedaça.

Casei com ciência hoje de papel passado. Me entreguei de corpo e alma.

E, eu já tenho certeza: este amor vai me deixar aos pedaços.
Publicado originalmente em

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Reserva de vagas no vestibular UFSM 2013


A UFSM deve em breve reservar 50% de suas vagas para alunos de escolas públicas [1].

No entanto, o atual sistema de reserva de vagas da UFSM não teve efeito no vestibular UFSM 2013, a não ser em dois cursos.

No vestibular UFSM 2013, para parte dos alunos de escola pública, foi mais fácil ingressar pelo sistema universal (SU) do que pelo sistema de reserva de vagas (EP1A, EP1, EP2A, ou EP2). Esta distorção pode ser demonstrada pelos pontos de corte [2]. O ponto de corte é a nota do último candidato aprovado na primeira etapa do concurso.

Por exemplo, na Odontologia os pontos de corte foram EP2 = 80, SU = 71, e EP1 = 71.

Ou seja, parte dos candidatos que passaram o ponto de corte em SU, não passariam o ponto de corte em EP2. Podemos concluir que a reserva de vagas não funciona, pois parte dos alunos de escolas públicas enfrenta uma concorrência maior para ingressar pelo sistema de reserva de vagas do que enfrentaria pelo sistema universal.

Em concursos onde o ponto de corte em EP é maior do que em SU, a reserva de vagas tem apenas o efeito de onerar o sistema de cálculo de notas, sem ajudar os alunos de escolas públicas, por duas razões:
1) mesmo o último classificado em EP seria contemplado em SU;
2) concorrentes em SU, com rendimento abaixo do ponto de corte em EP, são aprovados na primeira etapa.

Em apenas dois cursos o ponto de corte em SU foi maior do que em EP no vestibular UFSM 2013 , e onde o sistema de reserva de vagas pode estar funcionando.

Letras - inglês e literaturas - licenciatura
Química bacharelado

Para exemplificar, veja abaixo uma pequena lista com alguns dos cursos onde se observa que o ponto de corte em EP é maior do que em SU. Lista completa em [2].

Administração diurno: EP2 = 61 >  EP1 = 58 > SU = 56
Ciência da computação bacharelado: EP2 = 71 > SU = 61
Dança: EP2A  = 76 > EP1A = 64 > EP2 = 48 > EP1 = 44 > SU = 43
Direito diurno: EP2 = 88 > SU = 85
Educação especial licenciatura diurno: EP2 = 45 > EP2A = 40 > EP1 = 34 > SU = 32
Enfermagem: EP2 = 60 > EP1 = 55 > EP1A = 49 = SU = 49
Farmácia: EP1 = 50 > EP2A = 46 > EP2 = 43 > EP1A = 42 > SU = 37
Geografia bacharelado: EP1 = 64 > EP2 = 55 > SU = 31
História bacharelado e licenciatura: EP2 = 64 > EP1 = 52 > SU = 51
Letras espanhol e literaturas licenciatura noturno: EP2A = 71 > EP1A = EP2 = 51 > SU = 42
Medicina: EP2 = 115 > SU = 112
Medicina veterinária: EP2 = 73 > SU = 68
Pedagogia: EP1A = EP2 = 37 > SU = 36
Química licenciatura: EP1 = 48 > SU = 43
Relações internacionais: EP2 = 73 > SU = 62
Serviço social bacharelado noturno: EP1 = 48 > EP2A = 44 > EP1A = 38 > EP2 = 32 > SU = 29
Sistemas de informação: EP2 = 64 > EP2A = 45 > SU = 42
Teatro licenciatura: EP1 = 43 > SU = 33
Zootecnia: EP1A = 53 > EP1 = 45 > SU = 39

[1] Escolas públicas (http://lsdorneles.blogspot.com.br/2012/08/escolas-publicas.html), acessado em 20/Setembro/2013.
[2] Pontos de corte 2013 (http://www.coperves.ufsm.br/concursos/vestibular_2013/arquivos/vestibular_2013_ponto_de_corte.pdf), acessado em 01/Maio/2014, cópia em http://goo.gl/9WYBNv